Imagine um país enorme, que fosse de Portugal aos Países Baixos, passando por Espanha, França …
Fundada em 2004 por François Bouché durante as operações de revitalização da fábrica AZF, a VALGO é especializada em remediação de solos e águas subterrâneas, operações de desconstrução e remoção de amianto e transformação de resíduos orgânicos em energia. Desde 2011, a empresa passa por um desenvolvimento significativo na França e internacionalmente, impulsionada por uma técnica de revitalização de brownfields que consiste em unir operações de remediação ambiental à engenharia técnica e financeira. Objetivo: desenvolver projetos ecologicamente responsáveis e economicamente viáveis, permitindo uma reconversão industrial duradoura. Encontro com François Bouché, presidente e diretor-geral da VALGO.
Revista L’Eau, L’Industrie, Les Nuisances (EIN): Qual é a sua opinião sobre o mercado de remediação de solos na França?
François Bouché: A saúde econômica do setor de remediação de solos depende em grande parte de dois fatores. O primeiro está relacionado ao mercado imobiliário, que, por construir também em terrenos poluídos, pode ou não impulsionar ações de remediação ambiental. No entanto sabemos que o mercado imobiliário está há dois anos em franca recuperação, o que, logicamente, puxa o mercado de remediação de solos. O outro fator está relacionado aos próprios fabricantes, que foram muito afetados pela crise nos últimos anos. Já faz alguns meses que também temos sentido uma recuperação, o que se reflete em um claro aumento dos programas de remediação ambiental antes de projetos de investimento. Os fabricantes também são impulsionados por iniciativas de responsabilidade social corporativa, que os estimulam a agir. Tudo isso torna possível notar uma clara mudança de abordagem na maneira de entender os processos: agora a vontade incentiva as ações mais do que a obrigação e observa-se uma tendência a fazer um pouco mais do que somos obrigados a fazer.
Revista EIN: Como as empresas enfrentaram a crise que atingiu o setor nos últimos anos?
F.B.: A maioria dos colegas viu seu volume de atividade se estabilizar nos últimos três ou quatro anos e só agora eles veem suas atividades sendo retomadas. A VALGO teve a sorte de não sofrer essa desaceleração graças à operação de reconversão da antiga refinaria da Pétroplus, que gerou um alto nível de atividade em um momento em que o mercado estava desacelerando drasticamente. Esse contrato permitiu que tivéssemos um crescimento de cerca de 25% ao ano, em média, nos últimos quatro anos.
Revista EIN: Como a VLAGO está posicionada no mercado de remediação de solos?
F.B.: A VALGO desenvolveu nesse mercado uma abordagem específica, que consiste em unir as operações de remediação ambiental à engenharia técnica e financeira, de modo a desenvolver projetos ecologicamente responsáveis e economicamente viáveis, permitindo uma reconversão industrial sustentável. Essa capacidade de comprar terrenos afetados pela contaminação do solo ou das águas subterrâneas é importante, porque é o fator desencadeante da atividade de remediação. Assim, quando a atividade diminui, a VALGO tem a sorte, em relação a outras empresas, de ter parceiros capazes de investir. Esse é um ativo importante, mesmo não sendo possível nem desejável generalizar essa prática, já que a VALGO é, antes de tudo, uma construtora. Essa possibilidade, que é essencialmente uma abordagem defensiva em relação a um contexto econômico perturbado, não afeta mais de 20% do nosso volume de negócios. Os 80% restantes vêm de uma abordagem mais tradicional.
Revista EIN: Como você avalia a reconversão da refinaria da Pétroplus em Petit-Couronne?
F.B.: Desde o final de 2014, quando adquirimos a antiga refinaria, iniciamos e financiamos 20 milhões de euros em obras. Ainda restam 150 milhões, que serão aplicados ao longo dos próximos dois anos. Fizemos um progresso de 60% nas operações de desconstrução-remoção de amianto e um progresso entre 30% e 40% na remediação do solo. As obras devem ser concluídas até o final de 2019, embora seja possível que algumas estações de bombeamento permaneçam após essa data.
Com a reconversão, conseguimos estabelecer algumas empresas no local, o que gerou 250 vagas de emprego. Eventualmente, quase 700 pessoas poderiam trabalhar no local. Atualmente, 100% do terreno já está reservado. Consideramos, portanto, que essa é uma operação-modelo em termos de economia circular industrial.
Revista EIN: Em princípio, uma operação como essa poderia ser repetida?
F.B.: Sim, se as condições que levaram à realização da operação fossem novamente atendidas, ou seja, se nos deparássemos novamente com um local afetado por um alto nível de poluição e um mercado favorável para transações. A reabilitação do local é muitas vezes associada exclusivamente ao conceito de responsabilidade. Apenas os custos e encargos da revitalização são levados em consideração. Os aspectos positivos da remediação são geralmente esquecidos, ao passo que fazem parte da cadeia de valor. Queremos continuar fornecendo toda uma gama de serviços que vão desde o contrato de obras até a implementação de instalações de terceiros interessados, em conformidade com a lei francesa ALUR, relativa ao acesso à habitação e ao planejamento urbano. A VALGO também pode oferecer controle de riscos técnicos e assumir as obrigações ambientais.
Revista EIN: Os novos desenvolvimentos regulatórios são desejáveis para deixar o mercado mais fluido?
F.B.: Nos últimos anos, vários desenvolvimentos regulatórios já tornaram possível agilizar o mercado, protegendo os diversos participantes. Mas uma lei que garantisse a isenção de impostos para terrenos poluídos permitiria um aperfeiçoamento do mercado. Um pequeno aumento de impostos, como a lei de Malraux, que ajudou a restaurar construções antigas e dos centros das cidades da França, sem dúvida resolveria os problemas que afetam o mercado imobiliário francês. Os preços dos terrenos poderiam cair, o que beneficiaria diretamente todos os mercados de construção e de remediação de solos. Existe uma lógica real na preocupação com solos poluídos.
Revista EIN: Quais desenvolvimentos surgiram nos últimos anos em matéria de técnicas de tratamento?
F.B.: As técnicas usadas para remediação de solos e de outros locais estão amplamente relacionadas a dois fatores: tempo e custo. Os donos de obras pensavam há muito tempo que estavam despoluindo locais ao simplesmente transferir as terras poluídas para aterros sanitários. Esse não é mais o caso. Agora os clientes estão mais dispostos a esperar por três ou seis meses, talvez até por um ano ou mais, para economizar 50% ou 60% e começar um tratamento no local. Mas eles devem decidir constantemente entre o fator tempo e o fator custo, sendo este cada vez mais importante. Como resultado, agora eles tendem a antecipar o início da remediação in situ para evitar a escavação da terra. Essa é uma tendência forte do mercado. Quanto ao tratamento, a VALGO tende a incentivar a dessorção térmica e a ISCR («redução química in situ»). A dessorção térmica é rápida, mas se provou muito cara. Ela é baseada em princípios simples, facilmente compreensíveis pelo cliente, o que ajuda a tranquilizá-lo. Mas ela não é muito simples e consome muita energia fóssil. Por isso o interesse na ISCR, que é baseada na injeção de produtos químicos patenteados, que permitem que certas tipos de bactérias fiquem mais ativas do que outras, degradando produtos clorados, certos pesticidas, etc. Essa tecnologia quase não consome energia, é mais complexa de implementar, mas menos dispendiosa. A VALGO frequentemente combina as duas técnicas, especialmente no Brasil, onde trabalhamos atualmente em grandes projetos de remediação ambiental.
Revista EIN: E a fitorremediação?
F.B.: De todas as técnicas de tratamento, a fitorremediação é a mais demorada. Normalmente, um local que pode necessitar de dois a três meses com um tratamento térmico pode levar alguns meses, ou até mesmo um ano, com a ISCR e de cinco a dez anos com a fitorremediação. Os programas de fitorremediação são mais solicitados pelas comunidades locais para projetos em que o tempo não é tão essencial. Tudo depende do uso que será feito do solo poluído. A VALGO se posiciona principalmente em projetos imobiliários ou industriais, muitas vezes caracterizados por prazos curtos e que exigem uma certa velocidade de execução.
Revista EIN: Qual é a situação do seu desenvolvimento internacional?
F.B.: Hoje, quase 10% do nosso volume de negócios vem de exportações, que geram quase 40 empregos, principalmente no sul da Europa e na América do Sul. Por que essas áreas geográficas? Porque as operações de remediação ambiental não são sistematicamente transferíveis de um país para outro. O clima, a geologia, ou seja, a natureza do solo, o quadro regulamentar, a consciência ambiental… são variáveis passíveis de intervir diretamente nas operações de remediação ambiental. Os países da América do Sul e os países latinos do sul da Europa têm um quadro regulamentar bastante semelhante ao nosso, o que favorece tanto o intercâmbio quanto os projetos.